Possuo um universo paralelo para onde escapo para criar minhas histórias e também quando o sofrimento teima em bater na minha porta. Nesse mundo reside tudo que eu crio, é o meu pólo, minha razão de viver.
Não, não sou louco. Talvez esquizofrênico. Na verdade, sou um poeta em busca da ALCOVA DOS POEMAS.
TODOS OS TEXTOS AQUI PUBLICADOS SÃO DE AUTORIA DE P.C.ALMEIDA
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29 de agosto de 2007
ELE EM TI
Lograr da lágrima que queda
Do teu olho ao sentir meu gosto
quando meu branco em ti segreda
Queria te prender perpétua
nessa cama circunspecta
Te fazer flutuar em névoas
E em ti destilar meu néctar
E se a manhã ainda teimar
em dar cabo de nossa noite
quero o sol a te queimar
as marcas do apaixonado açoite
Noites insones corpo em cima
no teu jardim de sofismas
colher tua flor mais intima
para irrigar teus carismas
apenas me ame...
7 de agosto de 2007
EU PAPEL
Estou com um papel em branco diante de mim.
Um desafiador papel branco.
Um inocente e irônico papel em branco. Que ri de mim, pois não saber preenche-lo com as palavras que eu gostaria. Que se impõe como um carrasco terrível, a sombra da espreita, querendo me pegar as esquinas das vírgulas, nos assombros interrogativos, nos berros de terror exclamativos.
Um papel.
Estou com um sentimento no peito.
Um sentimento inadvertido.
Capaz de me encher as lacunas cavernosas desse coração atribulado. Que aquece minhas sibérias interiores. Aperta-me o peito e a garganta como se essas fossem de um desgraçado suicidando-se pendurado no chuveiro. Esse sentimento que encarnou em mim e alojou-se na minha pele, minha carne, meus nervos, meus ossos.
Um sentimento.
Um sentimento e um papel.
Desafio duplo. Entender o sentimento, revesti-lo de palavras joga-lo no papel. Será que palavras dão conta dos sentimentos? Será que os neologistas já criaram os termos necessários para satisfazerem nossos sofismas, ódios, rancores, misérias, riquezas, glórias, amores?
Uma língua de tão profunda riqueza como é a nossa língua mater, não possui as instâncias precisas para designar o que clamam o profundo coração.
Eis a batalha eterna. O desaguar absurdo, cremoso, vulcânico do amor contra a racionalidade verbal, conjugada das palavras.
Há momentos em que um puro e significativo “eu te amo” é tão pouco, tão curto, tão inconsciente que não consegue ser a tradução mais que perfeita de tudo o que se pode sentir.
Aqui eu desisto.
Fui vencido pelo papel. Incoerente, lúbrico, jazigo papel.
Hei, onde vão vocês. Não me deixem nessa solidão muda...
1 de agosto de 2007
ROUPA NUA
Essa desmesura
da tua pintura
rutila teu olho
nesta suave moldura
Nessa fina brancura
Tocar bem de leve
E sentir tua textura
Como é pura tua jura
De amar-me a alma e o corpo,
com a mesma doçura
Entrega-me com loucura
Teus sonhos, teu sexo
E cura minhas agruras
O destino agora costura
O sonho que posso olhar
Nesse olho agora sem pintura