9 de dezembro de 2010

ARREPIO

Recito num sussurro
Versos no teu ouvido
Palavras ao ar quente
Arfantes como a libido.

Sentes dos meus lábios
vindo o som umedecido
pela saliva que alivia
teu calor constrangido

No teu lóbulo eu toco
a língua num verso atrevido
Um arrepio sobe e desce
teu dorso em mim recaído

Um beijo te estalo
Contorces num alarido
de prazer vejo teu sorriso
Molhado e amolecido

Alcanço-te a boca...

25 de novembro de 2010

DESAGRAVO

Num rompante vazio
O romance partiu
Sem dizer se voltava

No peito sentiu
O tributo pelo tempo
Que a vida demandava

A luz do sol sumiu
Só a via pelo do túnel
Por onde flutuava

Como um filme reviu
O amor que perdera
Quando tudo se alinhava

Agora a corda ruiu
Pendurada no vulcão
No calor de sua lava

A dor do parto que pariu
Agora inverte os fatos
Na sua lógica cava

Oh surrado coração!
Pulsa em silêncio pousa

17 de novembro de 2010

PERDAS MINHAS

A parte que em mim morre
É a mesma que nasceu
Depois de surras e porres
No dia que anoiteceu

A parte de mim que corre
É a que foge do meu eu
E ao teu rosto recorre
Sorrindo num camafeu

A parte de mim que escorre
Pela mão que concebeu
É a vida que em mim morre
Depois que a memória te esqueceu

Fim do karma. O céu escureceu...

9 de julho de 2010

OLHOS VICIOSOS

Seus olhos são precipícios
Olhando pra mim
Sádicos e jocosos
Esperando meu salto

Seus olhos são vícios
Gozando de mim
Meus olhos receosos
Olhando-me do alto

Seus olhos são inícios
Princípios do fim
Assassinatos dolosos
Precedidos de assalto

Seus olhos são ócios
Críticos e ruins
Sonhos artificiosos
Acordado em sobressalto

Me cure dos seus olhos

6 de julho de 2010

!O BERRO!

Com o peito atacado
Em brasa e pimenta in natura
Colho bocas de dragão
Num visionário jardim
Comidas para minha cura

Na boca o doce amargado
Fala sinceridade pura
Explode bombas atômicas
Pra matar passarim
Pequeno sopro de amargura

Na mão o aceno deseducado
Dedo médio dedura
O que a língua suprime
O falo dito tão assim
Ferido sem sutura

Nos bolsos qualquer trocado
Pra soldar a fissura
Aberta por aquela pena
Tão dedicada a mim
Que a falsidade jura

Verdade absoluta
Deixe morrer

3 de julho de 2010

DELÍRIO INSONE

Me sorriu com os olhos
Comunicação não verbal
No silêncio do ar
Sentidos em plural

Me abriu o peito
Coração tão igual
Pulsando pausado no lugar
Curando-me de todo mal

Me feriu com agulha
O dedo pinga amoral
Nosso sangue a se tocar
Pacto de amor abissal

Me reviu iluminado
Na lâmina do mal
Que tentava assassinar
O nosso tédio usual

Amar e morrer com o ser amado

27 de junho de 2010

ENCONTRO-ME

Sob sua pele
Se esconde outro eu
Visto nos seus olhos
Mesmo sob o efeito de Morfeu

Sob sua pele
Tatuou-se um retrato meu
Marcado a ferro quente
Com o amor que me ardeu

Sob sua pele
Esqueço todo o breu
Da vida, do passado
Pois o presente auroresceu

Sob sua pele
Alcanço o apogeu
Do sonho jamais sonhado
Na delícia de um beijo seu.

É sob sua pele
Que encontro Deus
Crível até para um ateu

Meu amor só é tangível
Sob sua pele

22 de junho de 2010

15 ANOS

E eu fico assim
Sorrindo feito bobo
Pensando em você

No seu jeito gostoso
Fazendo-me crer
Que o amor existe

E foi feito pra mim
Pra viver de novo
O que eu nunca senti

Vivendo o adolescer
Do coração teimoso
Descompassado, enfim

Te amar é renascer.

16 de junho de 2010

SOMBRA SIAMÊSA

Nem preciso dormir
Pra sonhar contigo
És meu sonho desperto
E nesse onirismo eu sigo
Pelo caminho mais certo

Nem preciso ouvir
Pra saber da tua voz
E com teu som me liberto
Desato os meus nós
Mesmo sem estares por perto

Nem preciso abraçar
Pra sentir a firmeza
Do abraço que te aperto
E a nossa sombra siamesa
Ilumina noites no deserto

Nem preciso tocar
Pra sentir o teu calor
Incendiar-me descoberto
Do teu corpo em torpor
Que o juízo desconcerto

Nem preciso viver
Mas é fundamental te ter
Para o infinito...

10 de junho de 2010

SENTIDOS PASSADOS

Seus dedos delgados
Juntos entrelaçados
Aos beijos salgados
Sabor do mar

Ficaram guardados
Num baú selado
Por meus dedos gelados
Tateado devagar

Meus olhos somados
Aos seus marejados
Pela poeira dourada
Luz solar

No peito largado
Eu vi depositado
Seu fino costado
O perfume a suar

Nesse momento
desconheço outra emoção...

25 de abril de 2010

A INTERMITÊNCIA

A vida é um intervalo
Entre um choro e um suspiro
Proferido quando calo
A voz do canto que admiro

O que há entre o abalo
Do regaço d’onde me retiro
E o leito feito um ralo
Por onde escorro e expiro?

Há sonhos, amores, atalhos
Por onde corro e transpiro
Pelos poros e pêlos grisalhos
Que pela experiência eu adquiro

Agora que enxergo o halo
Dessa luz que daqui miro
Despeço-me num estalo
E minhas pernas aqui estiro

Breve vida
Longo adeus!

22 de abril de 2010

INTIMISTA

Mirando-me em você
Enxergo-lhe a si mesma
Com seu brilho laquê
E sua rara beleza.

Por esta parede posso ver
Suas formas em delicadeza
Na nudez após reger
O seu banho de pureza

Vestes lindas só por que
Quer encobrir a natureza
do seu corpo que revê
a alegria em mim acesa

Minha serventia é a cada dia
Mostrar sua realeza
Dessa luz que irradia
Com a aura em leveza

Mas sei, por fim,
Que você se sente presa
Dentro de mim
Pois eu guardo sua riqueza

Identifico-me em ti mesma.

19 de abril de 2010

MUSA ELEITA

Tu és flor em pétala
Toque que agrada o dedo
Sete sentidos em pele
Arde o corpo em desejo

Sinto teu cheiro de flor
E o teu sorriso prevejo
Quando te excito ao torpor
depois de te tocar num beijo.

Tu és pele em veludo
Que meu tato veleja
Navega pelo teu suor
Doce de pele de cereja

Tua voz é a sinfonia
Que meu ouvido deseja
Por sete atos apreciar
Num silêncio que corteja

Mas é o teu ar que pressinto
E me atrai com o teu desejo
De ser eu o teu poeta
E de seres a musa que elejo.

Será?
Sim, serás.

13 de abril de 2010

SABOREIO

Quero morder-te a flor
De uma carne cálida
Sentir teu denso sabor
Escorrer-me a língua fálica

Quero sorver-te abrasador
Como a luz do novo dia
Envolver-me neste calor
Que teu corpo irradia

Quero teu olhar interior
Revirado por espasmos
No teu corpo um torpor
De múltiplos orgasmos

Quero ser teu beija-flor
Pra bebericar tua seiva
Encharcar-me desse amor
Que meu palato saboreia

Sabor de sonho...

4 de abril de 2010

SONETO SIMPLINHO

No vasto mundo
Do seu globo ocular
Procuro a fundo
Respostas pra me dar

Um sorriso, um assunto,
Amenidades pra falar
Segredos que ajunto
Do baú do seu olhar

Por onde eu circundo
Exploro seu lugar
Aguardo cada segundo
Pelo momento de encontrar

Minha alma
com a tua
Pelo singelo olhar

2 de abril de 2010

SILÊNCIO NU

O teu silêncio me ofende
Não me deixa dormir
É letra pra quem entende
Essas palavras mudas

Sua voz não transcende
Os seus lábios pra ferir
Meus ouvidos cadentes
Sem sua voz aguda

Mas seu olhar não mente
Escuto seu cílio se abrir
E fechar num repente
Quando o coração não ajuda

Quando o seu alô atende
Ao telefone sem rir
É como um som dormente
Disfarça a indiferença surda

Mesmo falando
Sua mudez me desnuda.

3 de março de 2010

O OLHAR DO TOQUE

Deslizo com as pontas dos dedos
Na fina camada de suor
Derrapo em curvas sem medo
Sobreposto em sua pele mor

Refresco-me com a doce seiva
Que emana do seu âmago
Lateja essa sua boca meiga
E levo-lhe um frio no estômago

Enxergo seu corpo em braile
Leitura que meu corpo agita
E sei que meu cheiro atrai-lhe
Que o meu toque lhe excita

Visualizo em meu espelho
Algo que não consigo ver
Sei que seu rosto está vermelho
Por sentir meu corpo se acender

Somos a soma sem se olhar
Apenas se sentir.

16 de fevereiro de 2010

CREPÚSCULO E NASCENTE

Tudo acaba de repente
Ainda que gradualmente
Tudo um dia acaba
Como casa que desaba

Sobre a cabeça da gente
Ainda que surpreendente
Seja no início da saga
Que o fim um dia apaga

E de tudo fica um pouco
Ainda que só a semente
De um início que recomeça
Nesse ciclo que nunca cessa

Até chegar ao fim novamente...

8 de fevereiro de 2010

PLATONISMO

Teu olhar imantado
Me atrai encantado
Magnetismo visível.

Você do meu lado
Mesmo tão longe
É um sonho possível

Mas tenho cuidado
Com o sonho que sonho
Ainda que irresistível

Seja esse olhar alado
Voando pra mim
Numa viagem incrível

Te quero neste sábado
Não, não digas nada
Apronte-se para o inesquecível

27 de janeiro de 2010

ESCALENO

O terceiro vértice
A segunda chance
À primeira vista

Ela não merece
Que eu alcance
E ainda insista

Nisso que padece
Como um romance
Um tanto pessimista

O terceiro vértice
A segunda chance
À primeira vista

Algo que apetece
Boca num relance
Seu gosto egoísta

Isso agora cresce
paz enfim se lance
Antes que desista

Desta dupla prece
Coração que descanse
Novo horizonte avista

A antigeometria

25 de janeiro de 2010

DESMUNDO

Todo amor desafia o mundo
Ainda que profundo
Seja o desejo do mesmo amor
Construir seu universo

O amor jura suas garras
Derrota dragões num segundo
Liberta todas as amarras
Ergue castelos com versos

Todo amor é segredo, é sagrado
É o filho desgarrado
Que volta sem beijo, sem sorriso
Pelo mar ainda submerso

O amor é amar o mar
É o conceder sem dar
O receber de bom grado
Mesmo que seja o seu inverso

É tudo o que preciso
Pra preencher o precipício
Da alma vivida sem ti
Ainda que controverso

Eu amo o amor

21 de janeiro de 2010

INSOLÊNCIA

Um sorriso patético
Surgiu amarelo
Nos lábios meus.

Situação hipotética
Por fim descartada
Pelos olhos teus

A mais perfeita tática
Subindo a calçada
Para um breve adeus

Foi o fim.
Melhor assim.
Foi um erro.
Meu pesadelo
Acordei em plena noite
E fugi desse novelo

A maneira exótica
De se sentir amada
Por um amor que morreu

Garota tão sádica
Flagela meus olhos
Trazendo-me o breu

Sumiu como mágica
Levando consigo
O que nem era seu

Foi o fim.
Melhor assim.
Foi um erro.
Meu pesadelo
Acordei em plena noite
E fugi desse novelo

20 de janeiro de 2010

ENTRECÍLIOS

Esse olhar que fuzila
a pele de mormaço
rarefeita e tranquila
desperta num estardalhaço

Esse olhar que cintila
cometa pelo espaço
e meu olho assimila
mas só enxerga o pedaço

Desse olhar que desfila
Passarelas passo a passo
Por um momento vacila
E o descaminho perfaço

Que o calor da tua pupila
desperte o desembaraço
Desse peito que oscila
Entre o teu e o descompasso

Penetras minh’alma.

13 de janeiro de 2010

Primeira do Plural do Pretérito Perfeito

Eu fui buscar
Tu pra minha vida
Ele demorou a olhar
Nós fugindo pela saída
Vós descíeis sem parar
Eles atrás na corrida

Eu parei pra beijar
Tu na boca ferida
Ele roubou-te o ar
Nós saltamos na avenida
Vós víeis do quinto andar
Eles te viram caída

Eu quis te agarrar
Tu para a sobrevida
Ele empurrou para acabar
Com o Nós...

Vós sem Substantivo
Voz sem adjetivo
Vogal sem consoante
Amor sem amante.

[Papel em branco]

6 de janeiro de 2010

VIDAS FUTURAS

Pode não ser desta vez
Mas vamos nos amar
Amarrados nesse mar
De pura insensatez

Agora não és minha
Outro corpo te abraça
És feliz que assim se faça
Que outra mão te advinha

Por mais que ele te fira
É dele o teu desejo
Aceitas o teu cortejo
Por ele tu transpiras

Mas ainda serás minha
Nem que seja em vidas futuras
Numa outra desventura
Noutro corpo que se avizinha

Do teu futuro amor