20 de fevereiro de 2008

REMINISCÊNCIAS

Os corações num descompasso uníssono
balbuciam sussurros monossílabos.
Os suores se misturam, se trocam, se tocam
pele que arde na arte do toque

Mãos percorrem os pêlos, pelas vias
torneadas, sublimes de se mirar
Mil mãos se auto acarinham
onipresentes, exploram dos cabelos aos pés.

Apesar do teu esplendor desnudo
são teus olhos que fascinam
Pupilas rútilas reviram, te olham por dentro
Te invado, mas não vejo, apenas sinto.

O pouco tempo de amor
é o que me leva às reminiscências
Para toda uma inteira semana
Sem te olhar o coração olhos nos olhos

12 de fevereiro de 2008

SONETO SURDO

O que cresce em mim
O que me ocupa os espaços
É o vazio que ecoa
Que acompanha meus passos

Não quero a tolerância
Nem a piedade desse olhar
Sou uma fortaleza de areia
E quero a onda que teima me derrubar

Estou cansado de me destruir
Viver é a pior forma de morrer
Cada lugar que caio, sinto a umidade
Desse bueiro aterrado de lixos a feder.

Já construí cidades e ruínas
Vivi até aquele amor suposto
Que teima e me inebria
Pela falta do calor do colo oposto

8 de fevereiro de 2008

SALIVA VIVA

Quero beijar-te à língua
beber-te a saliva
que do teu lábio pinga corrosiva
ardente Água viva

Quero embriagar-me da seiva
que do teu lábio agora pende
elástica e meiga
por entre esses teus dentes

Quero abraçar-te a ginga
e fazer-te superlativa
nesse amor amaríssimo
a saborear-te aperitiva

Quero a loucura que vinga
vida e morte na tua língua
que procura aflitiva
meus dentes, minha sina

Estas nossas salivas
para sempre hão de pingar
por entre lábios
entre línguas
e dessa tua boca corrosiva