7 de agosto de 2007

EU PAPEL

Estou com um papel em branco diante de mim.

Um desafiador papel branco.

Um inocente e irônico papel em branco. Que ri de mim, pois não saber preenche-lo com as palavras que eu gostaria. Que se impõe como um carrasco terrível, a sombra da espreita, querendo me pegar as esquinas das vírgulas, nos assombros interrogativos, nos berros de terror exclamativos.

Um papel.

Estou com um sentimento no peito.

Um sentimento inadvertido.

Capaz de me encher as lacunas cavernosas desse coração atribulado. Que aquece minhas sibérias interiores. Aperta-me o peito e a garganta como se essas fossem de um desgraçado suicidando-se pendurado no chuveiro. Esse sentimento que encarnou em mim e alojou-se na minha pele, minha carne, meus nervos, meus ossos.

Um sentimento.

Um sentimento e um papel.

Desafio duplo. Entender o sentimento, revesti-lo de palavras joga-lo no papel. Será que palavras dão conta dos sentimentos? Será que os neologistas já criaram os termos necessários para satisfazerem nossos sofismas, ódios, rancores, misérias, riquezas, glórias, amores?

Uma língua de tão profunda riqueza como é a nossa língua mater, não possui as instâncias precisas para designar o que clamam o profundo coração.

Eis a batalha eterna. O desaguar absurdo, cremoso, vulcânico do amor contra a racionalidade verbal, conjugada das palavras.

Há momentos em que um puro e significativo “eu te amo” é tão pouco, tão curto, tão inconsciente que não consegue ser a tradução mais que perfeita de tudo o que se pode sentir.

Aqui eu desisto.

Fui vencido pelo papel. Incoerente, lúbrico, jazigo papel.

Não me importa agora buscar essas palavras que teimam em fugir.

Hei, onde vão vocês. Não me deixem nessa solidão muda...

Um comentário:

  1. Bem legal esse seu texto, me lembra o drummond:

    Gastei uma hora pensando em um verso
    que a pena não quer escrever.
    No entanto ele está cá dentro
    inquieto, vivo.
    Ele está cá dentro
    e não quer sair.
    Mas a poesia deste momento
    inunda minha vida inteira.



    Está no caminho certo.
    Abs,
    Carlos - namorado da Angela (professora)
    Se quiser visite o meu blog também.

    ResponderExcluir