(...) Quando os olhos se fecharam, a garganta secou rapidamente. Um rombo ardia em sangue latejante. O chão se tornou um aparato para o corpo dolorido. Apenas um estrondo foi capaz de provocar tudo isso. Aliás, dois estampidos, pois Juvêncio fora homem o suficiente para conseguir disparar também sua arma. Mas não manteve os olhos abertos para ver a conseqüência do seu ato heróico. Bravo trabalhador braçal que agora se via nos laços do anjo implacável, esse anjo que quando passa leva quem o destino determina, sem qualquer discrepância, seja o escolhido abastado ou miserável. Tamanha é a intolerância do anjo implacável que naquele minuto estava levando consigo o Senhor Olivério, um homem rico por herança e ganancioso. Desses homens soberbos que comungam da religião do dinheiro, porém sua esperança de vida se agarrava a um Deus que nunca foi digno de sua devoção enquanto lívido. Aquele homem das finanças só não conseguira comprar sua própria vida. Agora quedado sobre seu jipe, babujava o sangue que lhe saia das entranhas e esperava, com medo, a morte se abancar sobre si.
O Homem do Capuz Sombrio jorrou seu gélido caldo mortal sobre a cabeça de Juvêncio que o esperava serenamente. Os pobres não temem a morte, já que vivem à margem dela, e também por que crêem em uma vida mais justa no Reino dos Céus, em compensação pela vida desengraçada que levara na terra. A única lembrança que atormentava aquela mente cansada da vida era a de Violante, sua filha única que agora ficaria sozinha nesse mundo tão tirano. No mais, se comprazia com a “doce” sensação do endurecimento de suas vértebras, o sentimento de um sono profundo que seria eterno e inviolável. Finda-se a fome, a garganta suplicante por água, as dores do mundo, tudo isso agora era para os humanos vivos. Ele não mais precisaria sentir o amargo gosto da cachaça para sobrepujar suas magoas. Sentimento egoísta, mas que ele se via em pleno direito dele, uma vez que passara pela terra a franzir a testa por causa de problemas de seus amigos e filha. Ao pobre resta a resignação, não mais a luta.
Já Olivério tinha medo, quando começou a sentir suas pernas dormentes, suas pálpebras insuportavelmente pesadas, o coração em disparate, quis gritar por socorro, mas sua voz já não transcendia à própria garganta. Nunca mais escutariam seus gritos, fossem eles de gozo ou de desespero. O pavor de sentir aquele que é o destino certo do ser humano se cumprir fazia desse momento uma terrível tortura, comparada àquelas que seu grande herói nazista promovia em seu domínio na Europa. A dor de dentro de seu peito, irrompido pelo projétil, reverberava para todo seu corpo, para toda sua alma. Mas tinha realmente alma esse homem? Deus lhe dera sim uma alma, mas de tanto massacrada que fora, resolveu tomá-la de volta. Uma conclusão simplista e errônea. A morte leva a todos, mas tem o capricho de dar aos pobres de espírito alguns segundos de moribundez. Talvez para expurgar seus pecados.
A morte vence. Dolorida ou serena, sempre vence.
O Homem do Capuz Sombrio jorrou seu gélido caldo mortal sobre a cabeça de Juvêncio que o esperava serenamente. Os pobres não temem a morte, já que vivem à margem dela, e também por que crêem em uma vida mais justa no Reino dos Céus, em compensação pela vida desengraçada que levara na terra. A única lembrança que atormentava aquela mente cansada da vida era a de Violante, sua filha única que agora ficaria sozinha nesse mundo tão tirano. No mais, se comprazia com a “doce” sensação do endurecimento de suas vértebras, o sentimento de um sono profundo que seria eterno e inviolável. Finda-se a fome, a garganta suplicante por água, as dores do mundo, tudo isso agora era para os humanos vivos. Ele não mais precisaria sentir o amargo gosto da cachaça para sobrepujar suas magoas. Sentimento egoísta, mas que ele se via em pleno direito dele, uma vez que passara pela terra a franzir a testa por causa de problemas de seus amigos e filha. Ao pobre resta a resignação, não mais a luta.
Já Olivério tinha medo, quando começou a sentir suas pernas dormentes, suas pálpebras insuportavelmente pesadas, o coração em disparate, quis gritar por socorro, mas sua voz já não transcendia à própria garganta. Nunca mais escutariam seus gritos, fossem eles de gozo ou de desespero. O pavor de sentir aquele que é o destino certo do ser humano se cumprir fazia desse momento uma terrível tortura, comparada àquelas que seu grande herói nazista promovia em seu domínio na Europa. A dor de dentro de seu peito, irrompido pelo projétil, reverberava para todo seu corpo, para toda sua alma. Mas tinha realmente alma esse homem? Deus lhe dera sim uma alma, mas de tanto massacrada que fora, resolveu tomá-la de volta. Uma conclusão simplista e errônea. A morte leva a todos, mas tem o capricho de dar aos pobres de espírito alguns segundos de moribundez. Talvez para expurgar seus pecados.
A morte vence. Dolorida ou serena, sempre vence.
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