22 de janeiro de 2004

UM PECADO PARA VOCÊ


Existe um olho escondido dentro de nossas cabeças. Esse olho é responsável por observar cada movimento seja milimétrico de nossas vidas. A teoria do panóptico nos revela que esse observante não precisa nem existir de fato, basta que ele exista no nosso imaginário e pronto. Somos escravos submetidos aos franzires de um olho oculto e implacável.
George Orwell, na sua obra “1984” já definia como somos observados por um Grande Irmão. Um componente indesejado de nossa família que está sorrateiramente fazendo égide em cada atitude que tomamos. Assim sendo, até mesmo dentro do nosso quarto trancado e no escuro, somos incapazes de manifestar desejos, de sermos nós mesmos intimamente, com a cara na verdade.
Fiz toda essa inflexão acima para falar que sofremos sanções a todo momento não só da sociedade, mas de nós mesmos. Temos um olho interno que é capaz de observar todas as manifestações da alma. A esse visionante a religião deu o singelo e marcante nome de pecado. Todas as leis da Igreja são acompanhadas de castigos.
Existe, portanto, uma consciência geral entre os religiosos daquilo que é pecado ou não. Dentre várias noções, o pecado relacionado ao amor, talvez seria a mais forte. Não se pode amar livremente, a pessoa precisa se prender a outra, dar satisfações a “Deus”(leia-se Igreja) e á sociedade.
Ora não existe pecado algum no amor. Ele existe e foi criado por Deus para que os humanos se harmonizem e se adorem. Como poderia algo tão bom, e tão bonito ser considerado uma falha, um crime. O pecado é o crime da Igreja.
Portanto é necessário que nos libertemos dessa consciência do pecado. Só devemos considerar o pecado aquilo que prejudique ou que engane o próximo. No mais viva os “pecados” do mundo. Eles são a face mais irisada da vida. Temos que nos permitir amar, mentir por uma boa causa, xingar nos momentos de raiva, e sentir o doce e cálido toque da paixão.
Dessa forma, eu desejo um pecado para você.


PAULO CÉSAR ALMEIDA

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