Possuo um universo paralelo para onde escapo para criar minhas histórias e também quando o sofrimento teima em bater na minha porta. Nesse mundo reside tudo que eu crio, é o meu pólo, minha razão de viver.
Não, não sou louco. Talvez esquizofrênico. Na verdade, sou um poeta em busca da ALCOVA DOS POEMAS.
TODOS OS TEXTOS AQUI PUBLICADOS SÃO DE AUTORIA DE P.C.ALMEIDA
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4 de setembro de 2005
COMO VENDER UMA CUECA AMARELA PARA UM HOMEM CASADO QUE MORA NO CENTRO DA CIDADE, DONO DE UM TELEFONE BEGE.
15 de junho de 2005
FRAGMENTOS "Padre Doutor fala à comunidade"
Momento de silêncio profundo. Todos os presentes se mantiveram com a cabeça dobrada e os olhos fechados num momento de introspecção. O bispo Dom Belchior aparentemente cochilava. O Padre Doutor retoma a palavra.
_ Minha mensagem final é uma única: Amem, amem com todas as forças de seu coração, pois estamos nesse mundo com uma missão específica, a de amar e ser amado. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
_ Para sempre seja louvado. – responderam todos em coro.
Almeida,Paulo César. A Sete Palmos. 2005.
3 de junho de 2005
A SETE PALMOS - fragmento do Capitulo I
O Homem do Capuz Sombrio jorrou seu gélido caldo mortal sobre a cabeça de Juvêncio que o esperava serenamente. Os pobres não temem a morte, já que vivem à margem dela, e também por que crêem em uma vida mais justa no Reino dos Céus, em compensação pela vida desengraçada que levara na terra. A única lembrança que atormentava aquela mente cansada da vida era a de Violante, sua filha única que agora ficaria sozinha nesse mundo tão tirano. No mais, se comprazia com a “doce” sensação do endurecimento de suas vértebras, o sentimento de um sono profundo que seria eterno e inviolável. Finda-se a fome, a garganta suplicante por água, as dores do mundo, tudo isso agora era para os humanos vivos. Ele não mais precisaria sentir o amargo gosto da cachaça para sobrepujar suas magoas. Sentimento egoísta, mas que ele se via em pleno direito dele, uma vez que passara pela terra a franzir a testa por causa de problemas de seus amigos e filha. Ao pobre resta a resignação, não mais a luta.
Já Olivério tinha medo, quando começou a sentir suas pernas dormentes, suas pálpebras insuportavelmente pesadas, o coração em disparate, quis gritar por socorro, mas sua voz já não transcendia à própria garganta. Nunca mais escutariam seus gritos, fossem eles de gozo ou de desespero. O pavor de sentir aquele que é o destino certo do ser humano se cumprir fazia desse momento uma terrível tortura, comparada àquelas que seu grande herói nazista promovia em seu domínio na Europa. A dor de dentro de seu peito, irrompido pelo projétil, reverberava para todo seu corpo, para toda sua alma. Mas tinha realmente alma esse homem? Deus lhe dera sim uma alma, mas de tanto massacrada que fora, resolveu tomá-la de volta. Uma conclusão simplista e errônea. A morte leva a todos, mas tem o capricho de dar aos pobres de espírito alguns segundos de moribundez. Talvez para expurgar seus pecados.
A morte vence. Dolorida ou serena, sempre vence.
31 de maio de 2005
FRAGMENTOS - A Sete Palmos
Com a lanterna no bolso, pois a luz da lua dispensava o uso do aparato luminoso, Meneandro trançava por entre os jazigos e covas com um olhar atento a tudo. Vislumbrava cada escultura, cada epitáfio gravado nas lapides, e via aquilo com orgulho, pois seu trabalho, razão de sua vida, estava ali fixada no chão do campo santo de Nova Glória. Nesse momento possuía a certeza que seus mortos estavam satisfeitos com o seu trabalho e que eles regozijariam do conforto de seus túmulos para o resto da eternidade. Meneandro nutria o doce sentimento que estava cumprindo sua missão na Terra, missão essa que lhe fora concebida pelo destino no momento de sua chegada nesse plano de vida.
O coveiro, então, divisa algo muito estranho que estava tumultuando a paz de Dona Amandinha, a nova residente do cemitério de Nova Glória. Meneandro se adiantou na direção do tumulo recém inaugurado e quando lá chegou percebeu que havia alguém ali caído de bruços. Buscou com as mãos saber quem era e quando virou o corpo percebeu que se tratava de Tânia. O coveiro teve a nítida impressão que a menina estava morta e procurou chamá-la no intento de despertá-la, mas Tânia se mantinha imóvel. O desespero tomou conta do coveiro que buscou a pulsação e a respiração daquele corpo desfalecido. Porém, nenhum sinal vital podia ser sentido. Um último recurso que poderia ser usado: a tentativa de reavivar. Meneandro procurou fazer massagens no coração e respiração boca-a-boca. Tânia não reagia. Depois de várias tentativas, o coveiro desistiu e caiu em pranto ao ver aquela menina morta em seus braços.
Súbito, Tânia se move. Seus braços se erguem e abraçam a cabeça do coveiro que ainda chorava. Quando se dá conta, Meneandro soergue a cabeça e vê os olhos rutilos de Tânia sorrirem para ele. Num rompante, o coveiro beija a menina sofregamente. Não existia ali mais nada que pudesse ser mais importante. Nem mesmo o fato de estar sobre um túmulo lhe parecia empecilho. Então, Meneandro e Tânia se amaram ali mesmo. Um sexo cálido, mas carinhoso. Sob a luz da lua e cercado por coroas de flores e cravos defuntos, o casal se entregava à libido na dança frenética e lancinante da paixão. Seus corpos nus se enroscavam e se confundiam como se fosse apenas um entre flores e cheiros. As imagens, as lápides, os sarcófagos, até mesmo Casemiro assistiam a tudo como voyeurs sobrenaturais e silenciosos. Tânia flutuava lépida, enquanto Meneandro procurava álibis. Ambos gozaram ruidosamente.(...)
22 de maio de 2005
O Retrato...
Sentado de frete para a janela encerrada numa película, Jorge amava seu charuto de Havana com a língua esponjosa. Seu olhar perdido no tempo dava-lhe um ar de regozijo, o qual parecia ser externado pela fumaça mal cheirosa daquele tabaco. O que havia naquele momento, senão um doce sabor de alegria, mesmo sublimada pelo ódio que lhe acometera. As cinzas eram batidas com displicência num copo sujo improvisado de cinzeiro. A garrafa de Chivas Regal vazia compunha o retrato de uma leve lucidez embriagada. Mas não era a bebida que lhe entorpecia, mas sim o tenro sentimento da vingança.
Depois de um casamento considerado pelos pares como aberto e livre, Jorge finalmente botara fim àquela situação. Inicialmente aceitara aquela relação com ares tão modernos e cosmopolitas. Todavia, o sexo entre eles e seus respectivos parceiros estavam se tornando aos poucos uma lúbrica tortura. O marido se via numa situação privilegiada, pois poderia ter em seus braços a mulher que desejasse sem a intromissão de sua esposa. Karina, sua esposa, já parecia se esbaldar com aquele ambiente libertino.
Tudo ocorrera com a normalidade das novas relações humanas. Mas o homem guarda em si resquícios de sua pré-história. Hoje vemos Neandertais a fins de parecerem homo-digitalis. No entanto, o destino traçado pela sociedade machista se cumpriu. Jorge se regozijava com o cubano e a embriaguez do whisky e também ao ver Karina nua, esvaindo sangue pelos furos de bala. Ao lado dela, o filho, também nu, não menos morto. Morreram no pecado. Pecado permitido pelas novas relações humanas. Um retrato bem enquadrado daquele amor em seu formato mínimo.
8 de maio de 2005
O Primo Basilio - Eça de Queiroz
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatado em seu calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo do estímulo por si mesma
E parecia-lhe que entrava enfim uma existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações
21 de abril de 2005
Alcova dos Poemas
27 de fevereiro de 2005
17 de fevereiro de 2005
A Maldição do Artista
2- Agradeço ao sistema essa dádiva, pois vislumbrem, meus amigos leitores, se existisse uma só forma de se viver “o correto”. Certamente viveríamos sobre uma lei do absurdo, onde nossa família, namorados e patrões seriam ciborgs típicos das fitas de Spielberg.
3- No entanto, não era exatamente sobre isso que gostaria de falar. Certa vez, o Humberto Gontijo, um grande ator, um dos maiores talentos da nova geração confidenciou a mim um fato doloroso. Peço licença a ele para quebrar esse segredo de confessionário. Somos amigos e por isso tomei tal liberdade.
4- O nobre ator me disse: “Não existe para o artista uma felicidade amorosa”. Essa declaração me fez pensar em profundidade sobre o coração de um artista. Naquele momento pensei ser uma hipérbole a afirmação do meu nobre colega. Mas pude ver que a razão iluminava sua reflexão.
5- É realmente recompensador ser uma artista. Muito embora sejamos discriminados e incompreendidos, não há nada mais regozijante que ver seu filho, sua obra sendo disseminada, aclamada, aplaudida. No entanto, há que se ressaltar com ênfase que um deflúvio fica para se pagar.
6- O que pretendo dizer é que alguém que possivelmente queira se enveredar pelos caminhos da arte necessita, previamente, fazer uma escolha. O artista é um fadado a ser um desinfeliz no amor. Isto é fato, mas que cabem várias objeções.
7- Independentemente das vozes que hão de objetar esse fato, eu repito: O artista tem em sua essência a nostalgia do amor mal acabado, a amargura do desafeto. Isto ocorre com o artista de fato, não esses pseudo-famosos que se auto-proclamam “celebridades”. Quanto à nomenclatura eu vos digo: as celebridades de celebres não possuem nem um fio de nylon.
8- Dessa forma, o artista se torna artista verdadeiramente. Aquele que possui a mancha do rancor, a marca do desprezo em sua pele e sua mente. Não há nada mais enriquecedor para um artista que uma tragédia, sobretudo uma tragédia afetiva. A titulo de um exemplo rasteiro cito a bela Ana Paula Arósio que, no início era uma bárbie, mas que depois de seu noivo ter se suicidado bem sob seus olhos, se tornou uma grande atriz, com traços dramáticos e olheiras de uma Fernanda Montenegro.
9- Sim, a arte é uma dádiva. Mas existe também a maldição de ser um artista. A infelicidade do artista também pode ser considerada uma dádiva, pois ela lhe proporciona uma emoção profunda e humana, o que nos aproxima cada vez mais dos nossos interlocutores causando a imediata identificação.
10- Não pretendo aqui desanimar quem quer que seja a prosseguir acreditando em sua arte. Uma vez que, quem tem a arte pulsando nas veias jamais se desiludirá com esses aspectos. Ser artista não se escolhe, mas sim se é escolhido para fazer arte. E aquele que se sente feliz, mesmo com as mazelas sentimentais é por que finalmente se tornou um verdadeiro artista.
11- Repeti demasiadamente neste texto a palavra “artista”, o que, para os puristas gramaticais seria um pecado. Mas uso e sempre usarei essa palavra iluminada por ribaltas e olhares. Quem possui amor à arte não se reprime perante os “nãos” que recebe. O grande antídoto para a desilusão é criar, criar e amar profundamente aquilo que cria.
9 de fevereiro de 2005
COMO VENDER UMA CUECA AMARELA PARA UM HOMEM CASADO QUE MORA NO CENTRO DA CIDADE, DONO DE UM TELEFONE BEGE.
Até que um dia seu irmão lhe questionou: “Você conhece a cueca amarela?” O Senhor Perfeição não deu muita pelota para o que seu irmão caçula lhe indagava. Mas a pergunta se fez voz novamente, pelo mesmo irmão, e numa desafiadora afirmação: “Você não é feliz sem conhecer a cueca amarela.” Uma ponta de dúvida surgiu na cabeça daquele homem. Seria ele realmente feliz? Não era possível que um produto tão ínfimo e dispensável fosse tão cheio de possibilidades e de felicidades. O que era uma ponta de duvida se transformou em tormento e, num belo dia, ele argüiu ao seu irmão: “Mas o que faz essa cueca amarela?”. Cheio de malícia, o rapaz explicara que a cueca amarela energizaria os chacras e lhe daria mais potência para dar conta da noite-a-noite da sua alcova. Impressionado com o discurso pseudocientifico de seu irmão, aquele homem perfeito declarou: “Eu quero uma cueca amarela”. Sem pestanejar, seu irmão foi-lhe buscar o sonhado produto. Chegou ela, surrada, suja, com alguns furos, mas amarela como uma manga. O preço do produto foi sugerido pelo irmão e não questionado pelo homem perfeito. Adquiriu com a felicidade daqueles que compram uma cueca amarela.
Hoje o Senhor Perfeição é um Senhor Perfeição dotado de uma cueca amarela. Sua vida permanece a mesma, exceto para ele próprio, pois a compra da cueca amarela lhe proporcionou um sentimento de renovação espiritual. Até seu amigo intimo fiel se tornou mais atuante e confiante. Enquanto o irmão conseguiu levantar a grana que precisava para comprar sua moto, uma moto amarela que o fez mais evidente aos olhos femininos. Homem é sempre homem.
4 de fevereiro de 2005
Viver a vida. Mas como?
O que ocorre, na verdade, é que somos escravos do nosso próprio tempo. Temos compromissos demais, "depois" demais, "amanhãs" demais. O hoje se torna um momento de transição e não o nosso verdadeiro presente. Não imaginamos que o "amanhã" não existe. Ele é completamente subjetivo, abstrato. E o "ontem" é uma pagina empoeirada da história.
Me vem, então, a grande idéia, a descoberta da polvora cantada em verso e prosa pelas melodias. Vivamos a vida intensamente, cada momento. No entanto, este inquieto cronista vos argui: Como????. (com todas essas interrogações). Qual o grande segredo de viver a vida? Seria o Carpe Dien mais uma utopia da humanidade?
Chega. Não quero ficar enxovalhando o leitor com tantas perguntas. Mesmo porque você tem coisa melhor para fazer. Tal como: Viver a vida intensamente.
Amarro-me numa conclusão rasteira. Viver a vida é deixar o destino te levar e o amor acontecer. O que vem depois é "amanhã".