Possuo um universo paralelo para onde escapo para criar minhas histórias e também quando o sofrimento teima em bater na minha porta. Nesse mundo reside tudo que eu crio, é o meu pólo, minha razão de viver.
Não, não sou louco. Talvez esquizofrênico. Na verdade, sou um poeta em busca da ALCOVA DOS POEMAS.
TODOS OS TEXTOS AQUI PUBLICADOS SÃO DE AUTORIA DE P.C.ALMEIDA
Copyright by P.C.Almeida. Todos os direitos reservados.
31 de dezembro de 2008
Poema para esquecer.
há um orifício racional
onde o soldo da grande glória
e os resquícios dos deméritos
são registros de memória.
O que grava tua retina
é um vídeo-tape obrigatório
pois a maquina se despluga
mas o cérebro irredutível.
revê o que nunca muda.
Para esquecer é preciso sonhar
vislumbrar aquele novo horizonte
sem receio de alcançar
a sua própria água vital
e descansar numa só fonte.
Para esquecer é preciso ser escritor
e não escrivão de sua vida
tem de merecer a superação.
ao invés de deitar na lividez
procurando a memória já morrida
De morte matada...
30 de dezembro de 2008
ENTRECÍLIOS
a pele de mormaço
rarefeita e tranqüila
desperta num estardalhaço
Esse olhar que cintila
cometa pelo espaço
e meu olho assimila
mas só enxerga o pedaço
Desse olhar que desfila
Passarelas passo a passo
Por um momento vacila
E o descaminho perfaço
Que o calor da tua pupila
desperte o desembaraço
Desse peito que oscila
Entre o teu e o descompasso
Penetras minh’alma.
9 de novembro de 2008
VIL METAL
Preciso de dinheiro
Ou o dinheiro que precisa
do meu tempo o tempo inteiro?
Vende-se meu dia
de sol alvissareiro
pelo mínimo que se consiga
viver nesse viveiro
Preciso de tempo
Preciso o tempo inteiro
desse metal vil e impreciso
pra sair do cativeiro
Meu sangue agora é seu
e leve grátis o derradeiro
suor que do rosto pinga,
a aguardente e o travesseiro
Preciso de tempo
Preciso de fevereiro
onde há o pão e o circo
e me mascaro aventureiro
Uma esmolinha, por favor...
ROUPA NUA
da tua pintura
rutila teu olho
nesta suave moldura
Mas pretendo tua pele
Nessa fina brancura
Tocar bem de leve
E sentir tua textura
Quero teu olhar nu
Como é pura tua jura
De amar-me a alma e o corpo,
com a mesma doçura
Vista-te de ti mesma
Entrega-me com loucura
Teus sonhos, teu sexo
E cura minhas agruras
O que a vida já desatou
O destino agora costura
O sonho que posso olhar
Nesse olho agora sem pintura
Borrou-se no suor...
13 de setembro de 2008
MENOS O MEU
Foge pelos ralos
Some na poeira que ficou nos pés
Tu com tuas palavras lânguidas
pareces querer me seduzir
Mas teus olhos fugidios
miram o horizonte e quase tudo,
menos os meus.
Teus beijos estão em todos os cantos
Premiam bocas outras
Menos a minha
E eu me diluo nessa ilusão
Sôfrega, densa, e muito própria.
Eu não só não tenho a ti
Como perdi a mim mesmo
Não te rimo mais
Nem te verso, nem te proso
Quero a sua desgraça
Longe de mim, assim como pretendes estar.
Terás assim muitas outras bocas
Outros corpos, outros sonhos
Menos os meus.
22 de agosto de 2008
AMOR MODORRENTO
e continuar vivendo!
Queria assim me perder
de amores por ti sofrendo
Como é bom tocar nos olhos
teus com meu olhar
E poder manter-me lendo
tua alma aqui por dentro
Mas é triste esse esgar
de solidão me remoendo
por não ter mais teu retrato
na estante longe se perdendo
Eu mergulho em mim mesmo
em busca do espelho adentro
onde eu possa ver o reflexo
do teu corpo em mim jazendo
Morrer de amor é viver morrendo...
9 de julho de 2008
CIÊNCIA DO AMOR*
para vislumbrar
céus, terra, estrelas
e a doçura desse mar
Aproveito o desejo
para me embriagar
do nobre cálice de vinho
no entorpecente bebericar
E me jogar nessa estrada
com curvas que desafiam
a nossa pobre Física
Tu és a menina sorriso
que atormenta o norte
desses pobres homens
Volumes, formas, coração
Geometria perfeita
Química insuspeita
Sentimento sem um "senão"
Feliz e raro
aquele que tomar seu amor
pois dele sempre será
sua alegria sem penhor.
*Para Camilla Borges
3 de julho de 2008
NARCISICAMENTE
Assim que tua lindeza
Que espalha a beleza
Pelo ar como um beijo
Te observas as bochechas
em ângulos mil
Procuras nos teus olhos
tuas formas em perfil
Numa ode a ti mesma
fazes caras e bocas
expressões de delicadeza
que me sugerem idéias loucas
Tua menina dos olhos
se ilumina em flash
por detrás das cortinas
e de onde tu menos imaginas
Narciso que te inveje.
30 de junho de 2008
CAMINHOSOZINHO
Gotas de chuva
chovem meu caminho
onde sigo o destino
com você, porém sozinho
Não compreendo essa força
que me leva ao caminho
de pedras pontiagudas
onde me espeto, me firo sozinho
O sol que agora me encouraça
Alumia aquele tal caminho
Luz e calor desproporcionais
à sombra que vivo sozinho
E quando a lua se apresenta
para enluarar o meu caminho
Descubro a luz prata inóspita
que petrifica o coração sozinho
A morte é uma dádiva
para quem encerra o caminho
mas a vida ainda uiva
como um lobo para lua
já que ambos morrem sozinhos
Ressuscito-me a mim mesmo só.
15 de abril de 2008
SAUDADES DA MORTE
não há mais um delírio
o ar agora sufoca
num derradeiro suspiro
Agonia vertiginosa
arregalam olhos remelados
nos ouvidos agora toca
a canção d’um condenado
Passo pela vida em passos
maldados desaforados
desato todos os laços
com quem tenho bom grado
Eis que agora vou retornar
ao sono profundo sem norte
já não preciso mais chorar
de saudades da morte.
11 de abril de 2008
O AMOR VIVE*
Os olhos fechados
Á beira do paraíso
Perdigotos compartilhados
Lubrificam o juízo
O toque de um abraço
Que mãos delirantes
Em um sopro de vida
De amores marcantes.
Tudo parecia perdido
Nau sem bússola
Pássaro novo
longe do ninho
Nada queria
indicar o caminho
Quando o destino
Brincalhão
Resolveu tomar frente
Tentação.
E o vento cálido
Derreteu o gelo terrível
Que insistia em petrificar
Nosso amor possível
Não sublime seu desejo
Seja fiel ao seu coração
Nunca deixe de olhar meus olhos
Quando lhe peço a sua mão.
Não seja sombra
Se torne luz
E jamais se esqueça
O destino?
É você quem conduz.
*Antologia poética 2002
6 de abril de 2008
SEU SORRISO
Magnético e impreciso
Que atrai os meus ouvidos
E me habita os sentidos
Quando floresce
seu sorriso me amanhece
Nascente que se tece
O novo sol que me aquece
Sua tez assim se fez
Escarlate desse sorriso
que me afasta do juízo
quando daqui eu o diviso
Devaneio ótico
30 de março de 2008
DESSONHO
Ao menos de vez em quando
dedilhar um sonho feliz
tal qual se toca um piano
E te falar sinceridades
cantá-las como um soprano
e fazer o mundo saber
o quanto “eu te amo”
Mas não posso, pois
com a vaidade me engano
e o orgulho amordaça
esse sentimento insano
Por que não me tratas de "amor"?
Foges desse intimo desatino
fatal para qualquer ser humano
de se perceber se apaixonando
Permita-me te ver jogar
com minha vida em dados
e num azar te ver ganhar
o meu coração suburbano
Me faça teu...
20 de março de 2008
CLAREVIDÊNCIA
Sobre tua lindeza brilhante
Calada e falante
Eterna por um instante.
Me faltam adjetivos
Sobre essa tua simetria
De luz da cor do dia
Que agora me alumia
Me falta também o ar
Para cheirar do teu perfume
Que meu sentido já presume
Ser o teu como costume
Me falta a proximidade
Te encontrar na tua cidade
E por fim
Te olhar
Venerar
Admirar
O teu ar respirar.
Ofegante.
12 de março de 2008
...pelas noites
Qualquer devaneio
já me satisfaz
Imagino teu seio
na minha mão fugaz
reprime o desejo
desse rosto no meio
do cheiro que apraz
na luz da solidão
Sinto o frio do calor
Do prazer na minha mão
fugir assim, assaz
das noites de devaneio
quando a dor se refaz
das noites sem fim
Com olhos vidrados
esperando teu Sim
7 de março de 2008
CLICHÊ
Eu não te conheço
nem sei das tuas rodas
não preciso te esquecer
nem lembrar-me do teu tato
Tua voz me é estranha
Que horas tu acordas?
Pra que santo tu rezas?
Qual demônio do teu pacto?
Não precisas responder
Já não me interessa
Eu me viro muito bem sem saber.
Nunca fizeste mal, nem bem
Não fedes nem cheiras
Eu me preencho com o vazio
Da tua ausência benfazeja
A distância é quase um detalhe
que nos afasta como queiras
Prometo não atormentar
Tua flor, que assim o seja.
Ilusão, um clichê
20 de fevereiro de 2008
REMINISCÊNCIAS
Os corações num descompasso uníssono
balbuciam sussurros monossílabos.
Os suores se misturam, se trocam, se tocam
pele que arde na arte do toque
Mãos percorrem os pêlos, pelas vias
torneadas, sublimes de se mirar
Mil mãos se auto acarinham
onipresentes, exploram dos cabelos aos pés.
Apesar do teu esplendor desnudo
são teus olhos que fascinam
Pupilas rútilas reviram, te olham por dentro
Te invado, mas não vejo, apenas sinto.
O pouco tempo de amor
é o que me leva às reminiscências
Para toda uma inteira semana
Sem te olhar o coração olhos nos olhos
12 de fevereiro de 2008
SONETO SURDO
O que cresce em mim
O que me ocupa os espaços
É o vazio que ecoa
Que acompanha meus passos
Nem a piedade desse olhar
Sou uma fortaleza de areia
E quero a onda que teima me derrubar
Estou cansado de me destruir
Viver é a pior forma de morrer
Cada lugar que caio, sinto a umidade
Desse bueiro aterrado de lixos a feder.
Vivi até aquele amor suposto
Que teima e me inebria
Pela falta do calor do colo oposto
8 de fevereiro de 2008
SALIVA VIVA
Quero beijar-te à língua
beber-te a saliva
que do teu lábio pinga corrosiva
ardente Água viva
que do teu lábio agora pende
elástica e meiga
por entre esses teus dentes
e fazer-te superlativa
nesse amor amaríssimo
a saborear-te aperitiva
vida e morte na tua língua
que procura aflitiva
meus dentes, minha sina
para sempre hão de pingar
por entre lábios
entre línguas
e dessa tua boca corrosiva
20 de janeiro de 2008
O SILÊNCIO E NÓS
é quem fala por nós
com verbos ausentes
quando estamos a sós
Revestir um sentimento
com essas tais palavras
que te causam encantamento
é a magia que pretendo
Quero ser teu trovador
único e exclusivo
e cantar esse amor
que agora eu cultivo
...e provocar-te o silêncio
Que precede um suspiro
Mas te excita às palavras
Num arrebatado delírio
...e provocar-te a falar
com languido torpor
mesmo que seja por um olhar
nesse élan de amor.
Te inspiro poetisa...
17 de janeiro de 2008
ALVA PELE II
Belo colo
Pelos poros pêlos louros
Pêlos negros claros pêlos pela pele
A ti matizes de luz e sombra mixadas
Bela cor
Alvo amor
Colo sussurro, quente arfante
Bela curra
Divino prazer
Pele péla
Arde a paixão
Queima o amor
Incinera a alma de desejo
Sofro e olho
Apenas olho
e por que?
Alvas curvas
Deslizantes, lisas
Perfeitas formas
Pêlo amor
Bela cor, a mais bela
Gozo.
6 de janeiro de 2008
Elas preterem os poetas
O verbo que hoje calço
É aquele que me leva
a dar cada passo em falso
na mais perene treva.
Os meus adjetivos
são hoje meu cadafalso
Música tão subjetiva
no salão onde eu valso
Sou escuridão que amanhece
tua podridão que amadurece
minha solidão que comparece
nas noites de estrelas chuvosas
As mulheres dadivosas
Quais me fazem um desejoso
Voraz de apetite jocoso
Torpe de paixão
A poesia é para ti
que tanto odeia os versos
Neste peito agora imersos
Afogados para a eternidade
Regurgito teu sabor.