2 de setembro de 2006

MEDO DO AMANHÃ

É irônico pensar em músicas. Sobretudo fazer um histórico das musicas populares brasileiras. O gênero MPB há tempos não é mais popular. Nos dias de hoje quem admira esse gênero é considerado cult. A grande massa rechaça essas canções. As letras de Chico e Caetano tornaram-se ininteligíveis, de difícil acesso para as classes médias e baixas. Aliás, não há definição mais genérica e transgredida do que “classe média” no Brasil. Hoje qualquer vivente com TV e geladeira em casa já é “classe média”. Há dois tipos de classificação para essa divisão social. Existem as classes econômicas e intelectuais, as quais nem sempre são as mesmas para uma mesma pessoa. Há pessoas que estão no poder, mas são analfabetas funcionais e também há suburbanos leitores de Nietche e Marx. Isso é o efeito da tal globalização.


O assunto teima em me fugir e, às vezes, surgem as digressões. Perdoem-me, leitores. Mas voltando à vaca fria, não há nada mais anti-popular que a Música Popular Brasileira. Essa denominação surgiu na década de 60, durante os movimentos estudantis e os festivais de música. Perco-me na imaginação ao tentar prever como seriam hoje os Festivais. E, sinceramente, prefiro nem imaginar. Decerto, um Festival de música popular, na cepção da palavra, seria um baile funk com algumas pitadas de POP Rock. Uma lástima. Um dos candidatos fortíssimos seria a Tati Quebra Barraco, concorrendo contra algum grupo POP e suas canções insossas. O público vibraria quando tocassem “To ficando atoladinha”.


O fato que mais me deixa aturdido é o de pensar na história com ela sendo cíclica, e os fatos e situações se repetem de tempos em tempos. Isso leva ao raciocínio lógico que todos esses “sucessos” da atualidade, daqui a 30 anos, serão tidos como cult, assim como são hoje as músicas do Chico. Vejam bem, não faço aqui qualquer comparação com a qualidade da obra de ambos os artistas. Até gostaria de fazê-lo, pois me confortaria profundamente. No entanto, me assusta a idéia da elite intelectual do futuro se refestelar com a “obra” do DJ Serginho. Imaginem um café filosófico discutindo a poética dessas musicas, a melodia, a representatividade do funk da nossa geração. Me vem a cabeça um homem de cavanhaque, fumando um cubano e discutindo o sentido metafórico da “Lacraia” e sua dança afro descendente. Isso se esse intelectual existir, pois o intelectual no Brasil tem sido caçado como um bandido sujo, ele é o maior contraventor da nossa sociedade nesses tempos esdrúxulos.


O mais aterrador é conjeturar qual seria a Musica Popular desse futuro próximo. O que os jovens descerebrados estarão dançando baladas afora? Prefiro nem imaginar. Está claro que a nossa sociedade vem se degradando a cada ano. A cultura de massa vem se tornando um lixo lamentável. Somos reféns dessas corporações das comunicações que nos impõem modas e modismos. É melhor nem pensar nesse amanhã. O que podemos fazer é nos defender dessa armadilha que estão tramando para destruir a cultura da nossa sociedade através da aniquilação dos nossos cérebros.


Viva o MP3, os fones de ouvidos, a seletividade. Sem eles seria o fim de todo e qualquer tipo de bom gosto.


Ave Chico.

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