Depois da morte não se é mais nada. Retornamos ao pó que nos foi gênese. Viramos um deposito de larvas e bichos no fundo de sete palmos de terra.
Mas é preciso reconhecer que morrer dignamente é o mesmo que viver com honras de um herói nacional.
Assim sendo, Severino morreu. Sua vida era totalmente desengraçada. Nunca foi referência para ninguém, amor para ninguém, importante para ninguém. Uma pessoa que foi apenas coadjuvante de sua própria história. Passivo de sua vida.
Severino não conhecia sua própria mãe. Tinha como figura materna uma freira que o criara no orfanato. Saiu de lá para tentar trabalhar, mas não tinha a mínima vontade de possuir um ofício, por mais que lhe fosse vital. Trabalhou, forçosamente, de servente de pedreiro durante muito tempo. Profissão digníssima, diga-se de passagem, mas ele a praticava com tamanha incredulidade que mal conseguia se manter em um emprego.
O amor também não existia para ele. Conheceu o pecado num prostíbulo, donde foi expulso pois não pagava suas súcias. Vivia a deus-dará.
Até que um dia viajou, por conta de um amigo, para tratar de uma úlcera perfurada. E nesse tratamento morreu. No necrotério, o corpo de Severino foi confundido com o de um figurão, um grande homem, rico e influente. E o corpo do verdadeiro “grande homem” foi embarcado para a cidade de Severino. O enterro de Severino sucedeu com todas as pompas e circunstâncias. Houve parada militar, desfiles com a cavalaria, a presença do Presidente da República e muitas, várias, inúmeras viúvas para lhe chorar.
Um enterro luxuoso, como nunca sonhara o pobre Severino, que teve uma vida desengraçada, mas pelo menos no momento de seu enterro se tornou importante. Ao menos uma vez na vida.
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